quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Voluntariado Laos (Vientiane)

Era uma coisa que há muito queria fazer. Sempre sonhei em fazer voluntariado em África ou na Ásia!
E como digo muitas vezes o Vietnam foi o meu primeiro contacto com a Ásia pura e adorei! O país, as pessoas... o facto de serem tão felizes com tão pouco! Pessoas que viviam à beira da estrada em cabanas, sem tetos, apenas com um pouco de madeira a fazer de paredes e umas lonas de telhado e as crianças divertiam-se tanto e tinham um sorriso tão bonito no rosto!
Assim quando pensei no destino lembrei-me do Laos, um país num estado ainda mais puro que o Vietnam, com muito pouco turismo! Lá a ajuda deveria ser precisa.


Em conversa com a minha melhor amiga da infância, a minha amiga mais antiga, surgiu a ideia de irmos e em pouco mais de uma semana já tínhamos tudo tratado, fizemos a entrevista em inglês e no próprio dia compramos os voos, e depois orientamos a nossa viagem!

O Kam, um dos membros da Green Lion do Laos foi buscar-nos ao aeroporto e começou a nossa aventura! Estávamos à espera da boleia e aparece uma carrinha de caixa aberta com uma lona por cima e bancos corridos...
Foram 30min de viagem até ao acampamento em que nos fartámos de rir e brincar com o Kam, a ensinar-lhe a dizer Portugal, a falar sobre o Ronaldo, etc...

Chegámos ao acampamento e tudo era diferente do que estamos habituadas!
O apartamento tinha duas partes, uma para meninas e outro para meninos, separados por um rio, onde era lindo assistir ao pôr do sol.
Havia várias casinhas que albergam até 6 voluntários de cada vez (com casa de banho!)
Não há luxos. Cada casa tem 3 beliches, uma casa de banho com sanita sem descarga (a descarga é manual) e um duche em que o banho é de água fria! Mas considero que as condições são muito boas, ficámos surpreendidas e além disso o banho até sabia bem àquela temperatura! Morremos de calor, com mais de 40º, a água fresca sabia-nos tão, mas tão bem!







No primeiro dia, depois do pequeno almoço, onde conhecemos os restantes voluntários, os que já estavam e os novos, e tivemos uma aula sobre a cultura do país. O responsável falou-nos também sobre a organização e sobre o que está a ser feito neste projecto! Da parte da tarde conhecemos um pouco da língua... escrevemos num papel as principais palavras (e acreditem que deu imenso jeito!! Como o acampamento fica a cerca de 20km do centro da cidade ninguém fala inglês... para perguntarmos o preço no mercado local, onde íamos com frequência, ou para comprarmos qualquer coisa era fundamental!)
Seguiu-se uma conversa com o coordenador do projecto do jardim de infância que nos explicou o que iríamos fazer e aconselhou-nos a ler o livro sobre o que os outros voluntários tinham feito e que pôs-nos à vontade para fazer outras actividades com as crianças.
Parece que o primeiro dia foi um pouco chato, mas foi fundamental para nos integrarmos.






O projecto em si foi maravilhoso. A melhor experiência da minha vida, não só por poder ensinar algumas palavras em inglês às crianças, mas sobretudo por poder dar-lhes amor, carinho e ver a felicidade com que corriam para as nossas pernas, a maneira tão genuína como pediam colo! Cada um daqueles sorrisos ficou guardado no meu coração.
O projecto decorreu em duas escolas - uma de manhã (a nosso ver mais pobre e com crianças até aos 5 anos) e outra à tarde (onde decorria também o projecto de construção e onde os outros voluntários estavam a construir mais uma parede para a escola). Nesta escola havia uma grande variedade de idades, desde crianças bem pequenas até crianças mais velhas com 12-13anos).

Nós estivemos sempre com crianças na casa dos 5 anos e ensinávamos, em cada dia, dois temas diferentes, entre cores, números, letras, animais, partes do corpo, etc. Dançávamos e cantávamos todos juntos 2 ou 3 canções em inglês e jogávamos jogos.




Na escola da manhã ainda ajudávamos os meninos mais novos a comer e ensinávamos a lavar os dentes.
A parte de dar de comer aos pequenos de 3-4 anos impressionou-nos um pouco... Havia 3 pratos para 30 meninos e eles faziam um círculo à volta de quem tinha o prato para lhes irmos dando comida. No entanto havia sempre meninos que se chegavam à frente e comiam mais do que outros que praticamente não comiam...
Além de que a quantidade de comida no prato era muito pouca... uma sopa com noodles e 1 salsicha  por prato, por exemplo. Quando a minha amiga Filipa pediu mais porque já tinha acabado e continuavam com fome a professora disse que não havia, só comiam o que estava no prato.











De seguida ajudávamos a lavar os dentes. Uma coisa que notámos é que eles só escovam os dentes de baixo e a maioria tinha os dentes de cima em muito mau estado ou até mesmo podres. Insistimos bastante nessa parte.



 



Para a escola da tarde íamos de bicicleta e ajudávamos com o banho e com a comida.
Aqui, cada menino trazia o seu cestinho com o sticky rice e a proteína (que tanto era carne ou peixe desidratado, salsicha, frango cozinhado ou outras carnes)... nós fazíamos uma bolinha com o arroz e com a proteína no meio para eles comerem.
Nesta escola achámos que eram demasiadas crianças (35) para 1 só professora.










Renovámos os desenhos que estavam na parede e com que ensinávamos. A Filipa desenhou as roupas, eu desenhei as partes do corpo com uma menina bem grande para que fosse mais fácil eles apontarem quando nós perguntávamos onde estavam as pernas (por exemplo) uma vez que o desenho antigo era uma folha A4 e era muito difícil nós apontarmos para uma parte do corpo e as cerca de 30 crianças verem para onde estávamos a apontar!
Todos apreciaram o nosso trabalho!



Desenhei também uma girafa, como adoraram pediram para a pintar numa parede da escola. E assim fiz, com a ajuda da Filipa e de outra voluntária australiana pintámos a girafa.
Juntámo-nos, compramos as tintas e pusemos mãos à obra. Deixámos a nossa marca na escola, além das bandeiras dos nossos países que pintamos no lugar de uma das manchas da girafa.
Adoraram. Não só as crianças como as professoras e a directora. Esta, no último dia pediu se podia desenhar as restantes paredes antes de me vir embora, porque de certa forma era uma maneira de acalmarem os pequenos quando estes choravam... acalmavam-nos, ficando apenas a olhar para os desenhos...
E então, antes de ir almoçar no último dia acabei por deixar uns meninos desenhados na parede e a nossa amiga australiana depois pintou-os.
À saída a directora da escola abraçou-nos e agradeceu-nos muito com uma lágrima no canto do olho! Claro está que nós nos fartámos de chorar! Estava a acabar a melhor experiência da nossa vida e nós queríamos prolongá-la. Foi tão bom sentirmo-nos úteis e vermos a felicidade das pessoas com tão pouco que o "adeus" custou-nos imenso!








Saí muito mais rica desta minha experiência! Com a cabeça completamente diferente e a pensar e repensar nas prioridades, no futuro e no que é de facto importante!
Conheci pessoas incríveis, estabeleci laços! Foi uma semana intensa e ao mesmo tempo curta... vim com vontade de ficar, de poder fazer mais e melhor, de não continuar a ser aquela Joana que acorda, vai trabalhar e volta a casa mas sim aquela Joana que está a fazer uma série de crianças e instituições felizes!


Foi uma experiência super gratificante em que ensinei, dei amor, ajudei, aprendi muito e também cresci como pessoa.
Eu sei que foi um curto período de tempo e sei que não mudei muito, mas acredito que tenha feito a diferença, tenha deixado uma marca...
A imagem de entrar na escola e ver aquelas crianças todas a correr na minha direção e a pedir colo e a quererem brincadeiras jamais vai sair da minha cabeça.


Ficámos de coração cheio e com vontade de voltar.
Tanto as pessoas do voluntariado como as crianças, todo o ambiente de felicidade com tão pouco deixam uma pessoa nostálgica e cheia de saudades, pensando sempre na importância das pequenas coisas!
Não podia ter escolhido companheira melhor para embarcar numa experiência destas! Alinhámos em tudo e correu tudo tão bem, ficámos tão unidas e com tantos pontos em comum! Não foi uma despedida do Laos, nem do voluntariado, foi um até já... juntas!

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